Metro, rima e oração?

por aderaldo

 

1.

Há muito habita entre os cordelistas a tríade sobre qual o cordel está plantado: METRO, RIMA e ORAÇÃO. Mas isso diz tão pouco que chega a soar hermético para os não iniciados. Urge complementação e expansão desses conceitos para melhor enquadramento da poética cordelística.

2.

Considerando que em poesia, por ter como princípio as possibilidades da palavra, haverá sempre rima, por mais que os versos sejam brancos e soltos; considerando que sempre haverá metro, visto que todo verso contém sílabas poéticas, e que tudo, mesmo uma só vírgula, tem significado, aquela suposta tríade do cordel perde sentido. Por quê? Porque a poesia é maior que o cordel, sendo o próprio cordel forma poética.

3.

Por isso a necessidade de complementação: para o cordel vale o verso setissilábico; vale a rima soante, disposta na sextilha com a rubrica xaxaxa (onde os versos x não rimam entre si e os a, rimam; e o significado oracional está preso à sintaxe da língua portuguesa. Esse último ítem, entretanto, carecendo de maior aprofundamento e até de questionamento.

4.

Ainda sobre aquela tríade RIMA, METRO e ORAÇÃO, talvez o primeiro poeta a confessá-la tenha sido Antonio Teodoro dos Santos no cordel Lágrimas de Palhaço. O narrador abre assim:

Neste livro eu vou fazer
Rimas, oração e traço
Não quero que meu leitor
Na letra tenha embaraço
Saiba que agora vai ler
As “Lágrimas de um Palhaço”.

A capa reproduzida no início do post é da nova edição de 2010 da Editora Luzeiro.