Anotações para uma poética cordelial

por aderaldo

1.
Respeito o trabalho de todos os brasilianistas que enveredaram pelos estudos sobre o cordel, mas parece-me que não alcançaram o fundo do tacho, ali, onde ficam aqueles cascões que só com muita paciência é possível arrancar e ver a superfície polida, areada, como um espelho.

2.
Quando optei em ser editor de cordel minha vida deu um salto de qualidade: passei a ser mais humano, mais político, mais humilde, mais tolerante, mais amável, mais ecológico, mais plácido. E realmente passei a não ser só mais um rostinho bonito.

3.
Também constatei que o mundo do cordel reflete o mundo da literatura oficial: tem seus medalhões (que se julgam acima de tudo), suas vaidades, suas traições, suas inseguranças, suas agressões, suas fofocas. Mas foi o mundo que escolhi e meu objetivo é torná-lo melhor, amando-o e tentando compreendê-lo.

4.
O cordel não é apenas uma forma poética, há uma aura a ser respirada, assim como o tango e a dança flamenca. Infelizmente a banalização da sextilha encobre essa característica.